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Histórias de homofobia





"Meu relato:

Em 2017 minha mãe soube sobre minha bissexualidade, meu parceiro na época enviou uma foto para ela sem que eu soubesse.

(Eu ainda não havia conversado sobre com meus pais, por não estar pronto. Minha família é 90% evangélica, por isso temia essa conversa)

A reação da minha mãe foi horrível. Me humilhou com todas as palavras que eram possíveis. Para finalizar sua fala disse: "Prefiro você morto dentro de um caixão, do que saber que meu filho é um imundo."

Disse que meu pai nunca mais falaria comigo e que eu era uma vergonha para ela.

Ela mandou eu escolher entre continuar fazendo parte da família - para isso eu deveria VOLTAR PRA JESUS - ou continuar com "essa vida" e nunca mais colocar os pés em casa, esquecer que eles existiam.


Eu ainda morava no Rio de Janeiro. Surtei em silêncio. Passei por uma depressão muito intensa, tentei auto extermínio.


Literalmente abandonei toda a minha vida lá e me mudei para BH. Aqui comecei um acompanhamento psi e retomei a vida.


Hoje minha mãe não aceita, recentemente ela novamente quis impor que eu deveria deixar de ser quem sou. Mas desta vez eu consegui conversar. Disse que dessa vez a escolha seria dela, pois não deixaria de ser quem sou para agradar alguém, nem mesmo a ela.


Ela não aceita e finge que não acontece, porém não fala mais nada comigo. Diz que ora em silêncio para que Deus me mude."


DM, Belo Horizonte



"Eu tinha um amigo de faculdade, se chamava Zanotteli. A música nos fez amigos próximos! Estudávamos outro curso, mas a afinidade musical foi a porta de entrada para histórias, partilhas, eventos, encontros... Conversas. Um dia, Zanotteli me apresentou seu Tio. Até então, eu não havia pensado como eram diferentes em se tratando de parentesco, já que um era loiro e outro moreno! Na verdade , eu sempre fui muito inocente sobre questões homoafetivas, Jamais saberia que o tal Tio e meu amigo Zanotteli, eram na verdade namorados. Obviamente que apresentá-lo como Tio, foi a maneira que ele encontrou de inserir o "Tio" no mundo e/ou espaço dele, ou seja, nos encontros musicais em que meu amigo e eu participaávamos; além é claro de se proteger do medo, preconceito ou olhares mais ou menos desconfiados! Mas a mim, ele confessou na coragem e confiança. Hoje, meu amigos não vive mais.... Morreu vítima de um enfarto! Tenho saudades dele.... De verdade, pois era iluminador sua presença, sua inteligência, suas histórias e sua música! Sabemos que fatalidades existem, surgem de modo inesperado nos pegando-nos de surpresa. Não é o caso das vítimas do preconceitos racial e da homofobia! Estás morrem aos montes, mesmo havendo leis que as defendem. Que histórias reais como estás, nos leve ao respeito por todas as pessoas, pois não é uma questão de opinião ou aceitação.... E sim respeito e direitos a Todos!"


MSF, Santiago de Chile


"Olá meus amigos. Tudo bem?

Aqui no Espírito Santo eu acompanhei um caso de uma jovem mulher trans numa comunidade Eclesial de Base.

Antes da transição, ela era catequista há anos, coroinha, do grupo de jovens e da liturgia.

Quando ela publicou no Instagram a sua transição para mulher trans começou a perseguição.

A mãe de uma das crianças que ela era catequista procurou o padre dizendo que iria tirar a filha dela da catequese, porque a catequista é uma ameaça. O padre aceitou a fala da mulher.

O assunto chegou no conselho da Comunidade, que ficou dividido no que fazer com a jovem trans. Depois ela soube que para ficar teria que deixar o que ela fazia e só participar no banco.

Isso gerou grande revolta da família com a comunidade. Afetou a saúde mental da mãe e irmã. Tempos depois a jovem trans escreve uma carta desabafando com todo o sofrimento que estava vivendo.

Uma frase me chocou: vocês não suportariam ser uma mulher trans por 24h. Eu tenho saudade de estar na igreja. Também sou filha de Maria, Nossa Senhora.

Isso revela o lado hipócrita de uma parte da igreja. É nojento. Ela teve o apoio da mãe e da irmã na superação, mas não está na Comunidade."

Renato, Espírito Santo


Vou postar um relato de experiência minha. Peço desculpas, de antemão, caso ofenda alguém. Busco todos os dias melhorar quem sou e rever meus atos, falas e pensamentos.


"Bom, vamos lá.

Minha família, por parte de pai e mãe, são muito rígidos quanto à homossexualidade. Por parte de mãe, tenho um primo gay e que desde novo já se apresentava assim. Meu tio teve grandes dificuldades de aceitar como meu primo era. Os anos se passaram e eu já adolescente não tinha muito contato com eles. Doutrinado numa família patriarcal e heteronormativa, cresci contaminado com a fala de que homossexualidade era errada.

Uma vez, almoçando eu, meus pais e meu tio, ele logo tratou de relatar uma experiência e nos questionou do que fariamos caso um gay chavecasse a gente. Respondi sem pensar, que brigaria com o gay pois não aceitaria aquele tipo de atitude.

Meu tio, sereno, respondeu: entendo, meu sobrinho, mas pense só, é uma pessoa como nós. Sua vida já está cheia de desafios e dificuldades por já terem a carga do preconceito nas costas. Pense em todo o sofrimento que uma pessoa homossexual passa e apenas diga que não está disponível para se relacionar dessa forma, por ser hetero. Não precisa agredir, xingar ou destratar. Apenas responder educadamente, pois o gay não vai te forçar a nada. Ele só está em busca de alguém como qualquer um de nós. O que pode acontecer, no máximo, é vocês terem uma boa conversa.

E ai meu tio sorriu pra mim.

Me senti extremamente envergonhado da forma como falei. Não condizia comigo. Sempre busquei ser uma pessoa boa pra todos e me pegar pensando e falando daquele jeito acabou comigo. Me senti péssimo, ainda mais lembrando que meu primo é gay.


Os anos se passaram, eu amadureci e hoje revejo cada ato que tive quando adolescente. Cada fala carregada de preconceito e tento ao máximo me livrar delas. Às vezes damos alguns vacilos e soltamos um "ô viado" para um amigo ou "para de ser gay" sem pensar o quanto isso está carregado de preconceito. De como nossa sociedade normalizou essa falas e comportamentos.

Alguns gay já me chavecaram depois disso e eu educadamente recusei, mas disse que adoraria conversar. E sempre foram ótimas conversas.


Bom tenho um outro relato. Mas acho que vai ficar enorme o texto.😅

Então fica talvez para uma outra vez.!"


LP, Belo Horizonte



"Vou ser o primeiro então. Acho que devemos ficar atentos a homofobia recreativa. Em São Paulo no museu com minha esposa e uma amiga quando a amiga diz:olha só dois vidrinhos de mãos dadas ...ao invés de risadas surgiu um constrangimento nosso e uma parada longa para reflexão....a partir daí o passeio ficou chato....no bar com amigos quando eu disse que gostava muito do mercado novo um deles disse lá e legal mas tem uma viadada danada. Ao que seguiu-se risada geral. Levantei-me e fui embora. 3o no meu Instagram postei algumas coisas sobre homossexualidade e aí no chat um cara me perguntou: você é viado? Eu respondi, quem é você de é e o que quer conversar? Mas ele só perguntou de novo . Só quero saber se vc é viado porque só posta coisas de viado. Então disse que chamar um homossexual de viado era como chamar um negro de macaco...ele então postou...kkkkkk..nada a ver que comparação mais besta, viado é viado e preto ê outra coisa. Eu disse então que ia denuncia-lo por homofobia..aí ele sumiu."


RM, Belo Horizonte.



"Eu trarei um relato que aconteceu numa república da minha época de faculdade, não bem um episódio, mas uma sequência de fatos. Algo entre 2006 e 2008.

Nessa república, o pessoal era muito brincalhão entre si, mas sempre num clima de 5° série. Pequenos episódios do dia a dia viravam lendas recontadas aumentando muito o ocorrido, cena clássica de muitos rirem e o dono da cena ficar entre rir junto ou levar na esportiva. Era critério de seleção na entrevista ter senso de humor, da mesma forma que não ser gay. Na época achei estranho, não era do meu feitio essa separação, mas tudo bem, havia mais prós do que contras.

Dos moradores mais velhos, 2 gostavam muito de se provocarem e provocar aos moradores mais novos com brincadeiras homoeróticas: um com apelido de Porco e outro de Porquinho Rosa. O porco era negro e mais obeso, chamava a gente no quarto dele pra se insinuar deitado na cama de cueca box, lambendo a própria teta, "mas só na brincadeira". Já o Porquinho Rosa era muito branco, ruivo com sardinhas no rosto. Gostava de andar de cueca e chamava a atenção por ter uma bunda branquinha e sem estrias, o contexto no geral era pra denegrir a bunda de alguma mulher, tipo uma ficante, alguém que outro morador tivesse levado fora ou a mãe de algum morador, "mas era tudo brincadeira". Havia uma outra república de amigos deles que sempre frequentava lá em casa e a gente a casa deles, mesmos valores e preconceitos.

O Porco se mudou da casa, na vaga dele entrou outro aluno de psicologia, o Vavá. Ele, mais arretado, respondia as provocações de frente, mas também participava.

Um terceiro morador saiu também, outra vaga surgiu, era meados de agosto. A responsabilidade pela entrevista do próximo morador ficou para um morador mais sério e sincerão, no caso eu. Me incomodava com o preconceito em forma de homoerotismo, mas ainda preferia estar ali do que procurar outra república e correr o risco de passar por trotes convencionais violentos.

O candidato chegou eu descobri duas coisas na hora que fugiam ao esperado: o entrevistado era um nativo da cidade e não fazia faculdade, situação que era rara nas repúblicas que eu conhecia. Ele também era gay assumido, visivelmente afeminado. Casa mostarda, contas apresentadas, era hora de apresentar os critérios de seleção: ser homem, ter bom humor, aguentar a zueira e não ser gay. O entrevistado confirmou a orientação sexual, o sincerão falou sinceramente que não daria certo porque tinha outros moradores mais antigos que inhame preconceito com isso. Mas o relato não convenceu o entrevistado, que o confrontou se só os outros eram preconceituosos, se eu também não estava sendo.

A situação gerou uma lenda da entrevista e logo um desgaste meu com a turma.

O tempo passava, já era setembro e a vaga não era preenchida, o próximo candidato também era um homem afeminado, desta vez aluno da faculdade, com uma amiga em comum comigo, chamemos ele de Rô. Precisávamos preencher a vaga para as contas não apertarem ao longo dos próximos 5/6 meses. O Porco rosa formaria ao final do ano, aí seriam 2 vagas abertas, ele também precisaria lidar com tudo "por pouco tempo". Ele precisava ser convencido a aceitar o novo morador e a solução pensada na época: levar o Porquinho Rosa numa resenha da minha turma para que eu e ele pudesse perguntar juntos a essa amiga sobre o tema. Mais uma vez recebi uma incomoda censura pela fala, a resposta dela foi um "isso não era da nossa conta, ele é uma boa pessoa". Bom, foi o suficiente para convencer o Porquinho Rosa.

A convivência fluia na casa, apesar de um clima tenso as vezes, em especial pelo Porquinho Rosa estar mais colado com o pessoal da república de seus amigos, eles também frequentando mais lá em casa dando pitaco e provocando "da casa não ser mais a mesma".

Final de outubro chegando, até o aniversário de Rô. Ele quiz fazer uma festa de aniversário, eu e o outro colega de psicologia defendemos a ideia, apesar da resistência do Porco Rosa e amigos.

A festa teve muito mais gente do que o esperado, muita gente que conheciamos só de vista, tudo rolando sem hora pra acabar. Vavá havia passado mal cedo e estava no quarto dele sendo cuidado pela namorada e amigos, festa rolando.

Uma ou duas horas depois, já no meio da madrugada, Porco Rosa e amigos percebem um casal de homens se beijando na sala, se revoltaram com o fato. Eles se reuniram na cozinha para compartilhar sua revolta e nojo da cena. Aí sim se lembraram que Vavá estava passando mal e tentaram usar isso como mote pra desligar o som, acender as luzes acabar com a festa e expulsar todo mundo.

Mas não foi tão simples: os amigos e amigas de Rô perceberam e bateram boca com o grupo preconceituoso. Todo mundo foi embora, mas sem engolir ou disfarcar seus incômodos.

No outro dia, fiz questão de reunir os moradores na cozinha e dar uma lavada de cara do Porco Rosa. Isso pros outros moradores soou meio desnecessário, até pq ficou um clima de eu e ele não se olhar ou falar por quase dois meses. Mas que pra mim teve um sentido íntimo profundo, que imagino que esteja demonstrado ao longo da narrativa."


Miltom, Belo Horizonte.


"Eu passei por isso neste final de semana.

E o pior de tudo, meu pai foi o autor.

Fui comemorar meu aniversário que foi no sábado num bar lá no bairro Santa Tereza.

Um bar super alternativo, q já estava afim de ir a muito tempo.

Público muito variado e tinha muitos lgbtqia+.

Ai meu pai soltou várias frases homofóbicas, fiquei mega constrangido.

Mas ficou de lição de nunca mais levar meu pai num lugar como esse."


CT, Betim.



Carta a Pais de Filhos Trans.


"O que motiva a escrita desta carta são os desafios vivenciados na relação com meu filho, no caso um rapaz trans, e também as dificuldades que observei ao longo da minha trajetória como psicólogo clínico, onde pude vivenciar junto a alguns sujeitos a angústia tanto dos filhos quanto dos pais. Das experiências adquiridas na clínica com atendimento a sujeitos trans, neste recorte específico, ficou marcado certa época em que acompanhava uma família onde, dentre outras angústias, traziam a dificuldade em aceitar que tinham uma filha trans. Quando fui acolher o pai dessa menina, o mesmo, em um momento de grande angústia, deu um tapa na mesa do consultório dizendo: "é muito fácil você, que está do outro lado da mesa, querer que eu aceite".

WF, Sarzedo













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