Sobre este nosso encontro, quero iniciar expressando que “a alma não tem sexo”. Assim, após nos desprendermos dessa gaiola física, viveremos não por outros 90 ou 100 anos, mas por toda eternidade, pois somos seres imortais. Este breve período de existência, neste mundo contingente, representa muito pouco da nossa real existência que é espiritual.
Mas vou me ater, neste instante, ao mundo contingente. Tudo aqui é criado "aos pares". A Fé Bahá´í trata de descontruir uma sociedade masculina e estabelecer o conceito de igualdade de direitos e de deveres.
“... um dos ensinamentos de Bahá'u'lláh é a igualdade entre homem e mulher. O mundo humano é dotado de duas asas: uma é a mulher, a outra o homem. A ave só poderá voar quando ambas as asas estiverem igualmente desenvolvidas. Se uma delas permanece fraca, o voo é impossível.”
Desde o início da criação o ser humano é um ser composto, único e integrado. É esse o significado místico de Adão e Eva: Adão está representando o espírito do ser humano; e Eva, a mulher, sua alma. E os dois compõe um ser único, integrado.
Abdu’l-Bahá, filho de Bahá’u’lláh, Manifestante de Deus e Revelador da Fé Bahá´í disse:
“... está perfeitamente estabelecido que o sexo masculino e o sexo feminino, como partes integrantes da humanidade, pertencem à mesma categoria e não é admissível qualquer diferença de grau entre eles, pois ambos são humanos. ... Na realidade, Deus criou todo o gênero humano e, aos Seus olhos, não há distinção entre o homem e a mulher. Aquele, cujo coração é puro, é aceitável perante Deus, seja homem ou mulher. Deus não questiona: "Tu és homem ou mulher?" Ele julga os atos humanos. Se forem aceitáveis no limiar do Glorioso, tanto homem como mulher serão igualmente reconhecidos e recompensados.”
Na história do desenvolvimento humano, valorizou-se a força bruta seja nas caçadas, seja na proteção ou na construção de abrigos, etc. Dessa forma as funções femininas foram olhadas como uma atividade menor. Entretanto, neste novo mundo, estamos vendo o despertar da igualdade quando homens e mulheres participam das atividades essenciais de cuidados com a prole, saúde, bem-estar, limpeza, alimentação, etc.
Abdu’l-Bahá ainda diz: “ .... a nova era será uma era menos masculina, ou para falar mais exatamente, será uma era em que os elementos masculinos e femininos da civilização estarão mais bem equilibrados.”
Homens e mulheres são diferentes, têm qualidades distintas de forma que, necessariamente, uma característica complementa a outra, mas isso não deve ser motivo de superioridade de um para com o outro. Exemplo: homens tem dificuldade em pensar em várias coisas ao mesmo tempo, coisa que as mulheres fazem sem o menor esforço.
Pondero que enaltecer as qualidades de um em detrimento de outro é errado. Temos reparado que as mulheres que desejam alcançar o êxito profissional, às vezes sentem que necessitam despojar-se de suas qualidades femininas e devem substituí-las por qualidades masculinas. Deve-se buscar um equilíbrio entre os dois tipos de qualidades. Por sua vez, os homens sentem vergonha em mostrar qualidades ou colaborar com tarefas que consideram femininas. Esta situação impede o crescimento de ambos.
O aprendizado e o desenvolvimento mútuo são o melhor caminho. Necessitam aprender a ter relações horizontais baseadas na reciprocidade, no respeito, na concordância do postulado de igualdade, em compartilhar abertamente e no serviço mútuo.
Isto não só terá um efeito saudável nas relações entre os homens e as mulheres, como também na sociedade futura. Também é necessário, para criar-se uma sociedade melhor, que se integrem harmoniosamente as pessoas de distintos grupos étnicos e sociais. Se uma pessoa está acostumada às relações de dominação no lar, quer perpetrada por homens ou mulheres, além de ter negativa influência na educação dos filhos, também tenderá a praticá-las na sociedade.
Os Escritos Bahá'ís reafirmam que:
"A emancipação da mulher - a concretização da plena igualdade entre sexos - é um dos pré-requisitos mais importantes para o estabelecimento da paz. A negação dessa igualdade perpetua uma injustiça contra a metade da população do mundo e promove entre as pessoas atitudes e hábitos nocivos que são transportados do ambiente familiar para o local de trabalho, para a vida política e, em última análise, para a esfera das relações internacionais".
Isso posto, ou seja, que sou totalmente a favor da igualdade de direitos e de deveres, respeitando as características de cada gênero, quero colocar as mazelas que nós homens algumas vezes enfrentamos. Vou citar um exemplo que vivenciei: em um embate jurídico a sentença do juiz foi contrária ao esperado pela advogada; muito injustamente ela alegou que isso tinha ocorrido por ser uma mulher, ao que o juiz, ofendido, salientou que não, sua sentença tinha sido baseada na justiça e não no gênero.
Com esse exemplo quero expor que, algumas vezes, as mulheres usam sua feminilidade como muleta para ganhar alguma vantagem.
A sociedade tem sido cruel com os homens também; no decorrer dos milênios nunca puderam ser autênticos tendo sempre que se encaixar dentro de padrões pre-estabelecidos. Não podemos ser sensíveis nem amáveis. Mas estamos vivendo uma revolução de pensamentos tanto por parte das mulheres como dos homens. Acredito que em breve teremos uma sociedade mais igualitária.
A ordem administrativa da Fé Bahá´í, através de seu órgão supremo, a Casa Universal de Justiça, conclama a comunidade Bahá'í e as pessoas afins, composta por homens e mulheres com igualdade de direitos e de deveres, a serem a representatividade da sociedade. Gradualmente, o espírito de unidade e camaradagem será refletido na vida dessas famílias e da sociedade por elas composta.
Encerro afirmando que o sucesso e a prosperidade da humanidade somente serão atingidos quando o universo feminino e o masculino adquirirem as mesmas virtudes e perfeições.
Mostafa Bartar
Engenheiro e Bacharel em Direito. Estou representando URI (Iniciativa das Religiões Unidas) e a Fé Bahá´í, a mais recente das religiões de âmbito mundial.
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