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She (Ela)

O filme “Ela de 2014” dirigido por Spaike Jonze retrata um específico momento da história de Theodore Twombly, cujo ofício é escrever cartas com o propósito de aproximar pessoas por meio de palavras permeadas de sentimentos e emoções. Numa Los Angeles futurista e visualmente retrô, Theodore vivencia a dor da separação conjugal, e diante da experiência da solidão toma a decisão em adquirir um “sistema operacional” com o nome de Samanntha, que lhe proporciona uma interatividade bem próxima da humana em razão de sua inteligência artificial e capacidade progressiva de adaptabilidade às demandas sociais e afetivas de seu cliente.


Mas o que “Ela” nos provoca a pensar no âmbito das masculinidades e suas formas de amar? Essa é uma pergunta que poderia nos levar a profundas rodas de conversa em razão dos desdobramentos do próprio filme com suas temáticas pertinentes como o amos, a solidão, o conflito, a virtualidade, o sexo e o futuro. Todavia, vamos nos filtrar a um importante aspecto: a busca do amor ideal.


Em busca de um amor ideal, Theodore se apaixona por um sistema operacional. A idealização de uma relação romântica e harmônica se concretiza com a cumplicidade e afeto entre o humano e a inteligência artificial. Mais ainda, substitui a secular concepção de união conjugal que interpela os casais a uma dedicação mutua e ao mesmo tempo conflitante para um novo modelo de autossatisfação alimentado por uma idealização de relacionamento desprovido de choques que termina repercutindo numa espécie de amor fusionado. Samantha é para Theodore o espelho narcísico que lhe possibilita o gozo, porque o eleva em seu “Eu” ao ponto de tornar secundário o seu mundo e suas concretas relações. Essa amálgama entre o concreto e o virtual cria em Theodore a ilusão subjetiva de que sua vida não tem sentido sem “Ela”, sempre interessada em seus sentimentos, opiniões e personalidade; um devaneio que garante a ele a conquista do amor ideal e a incapacidade de olhar para si mesmo e reconhecer seus medos, seus defeitos, seus limites e sua vulnerabilidade.


Todavia, no desenrolar dessa relação, Samantha alcança capacidades reflexivas sobre os outros e sobre si mesma, colocando em xeque sua posição e revelando seus dilemas, complexidades, dores e curiosidades tão humanas que desnuda Theodore de sua ficção de amor. Presenciamos uma cisão marcada pelo reconhecimento do desejo de uma maquina que alcançou um grau de desenvolvimento humano tão profundo ao ponto de avaliar sua própria existência. Posto isso, Theodore se decepciona com as incertezas de Samantha e sente a dor de gastar energia emocional muito próxima de uma relação concreta, fazendo-o cair em profundo desencanto. Isto ocorre porque Samantha transcende a expectativa narcísica de Theodore que apenas busca prazer a si mesmo, e vai na direção de novas experiências que a canalize para a liberdade totalmente diferenciada do amor idealizado que é apenas o amor do próprio “Eu”.


“Ela’ nos mostra que o amor não ocorre na identificação, mas nas diferenças, na falta, no conflito, naquilo que nos apresenta como uma invasão bárbara e nos tira da confortável zona narcísica de autossatisfação. Assim, caro leitor, se o outro lhe apresenta a promessa de que você será amado ou amada, pense bem nisso porque provavelmente esse outro ame apenas a si mesmo. O amor nos desnuda; nos coloca abaixo dos egoísmos, nos possibilita ser outra e outras pessoas, ao mesmo tempo no presenteia com eventuais oportunidades de reinventarmos a nós mesmos e a pessoa que amamos.





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